É de se espantar
que, mesmo diante de todo o conteúdo dos quatro evangelhos a respeito da
assistência ao necessitado, a Teologia da Missão Integral ainda continue sendo
rotulada de marxista, de versão protestante da Teologia da Libertação e de
conjunto de medidas populistas, como se o Evangelho não fosse as boas novas do
povão e como se Jesus tivesse lido o Manifesto Comunista ou outras literaturas
posteriores para formular a sua proposta de experiência cristã, ou seja, que o
altruísmo deve estar presente em todas as relações humanas.
Sobretudo, ser
altruísta na concepção de Cristo significa possuir uma virtude que vai bem mais
além do que simplesmente “pensar nos outros” ou até “amar como a si mesmo”.
Para o mestre, o padrão deve ser estendido ao “amem uns aos outros assim como EU
AMEI vocês” (Jo 13:33-35). Esta perspectiva nos ajuda a compreender que o amor
ao próximo não está restrito a uma dimensão interna e sentimental, mas que se
expande à atitude de priorizar, de se abnegar, de partilhar e de, quando
necessário, se despir para que o outro se vista.
Em síntese,
mediante os princípios da necessidade e proporcionalidade, o altruísmo cristão
consiste em ações como: dar ou emprestar a quem pede (Mt 5:42); desfazer-se da
excessividade dos bens e dar aos pobres (Mt 19:21; Lc 12:33); receber e acolher
aqueles a quem o mundo despreza (Lc 14:12-14); repartir o pão com o faminto,
cobrir o nu e amparar o pobre desabrigado (Is 58:7). Assim sendo, haverá a
igualdade ambicionada por Paulo com relação aos que semearam bem e estão em
abundância e aos que não semearam e estão em sobrecarga (2 Co 8:12-14).
A meu ver, é
inadmissível pensar que textos como estes, ou são tratados como relativos ao
contexto de Jesus ou ignorados no afã de gerar um desencargo de consciência tal
que a Igreja possa se sentir à vontade na sociedade onde está inserida, sem,
contudo, interferir nas realidades com as quais convive. Se em Israel, os mais
vulneráveis eram os órfãos, as viúvas, os estrangeiros e os enfermos, é
necessário saber que a dilatação do reino produzida na cruz, abrangerá as
mazelas sociais existentes em todo o mundo. A Igreja precisa colocar a candeia
sobre a mesa.
É isto mesmo que
você entendeu. Iluminar o mundo com a luz de Cristo não é uma tarefa meramente
teórica ou que reside no âmago de púlpitos, congressos e sacramentos. Estes
elementos são relevantes para os encontros, a manutenção e o progresso do
corpo. Mas esta é apenas uma das missões eclesiásticas. A outra e, em minha
opinião, a mais importante e complexa, é tentar alcançar os da rua, da praça,
das esquinas de bordeis e motéis, dos lugares mais recônditos e periféricos,
pois estes são os pobres a quem Jesus estava aconchegando (Mt 11:5).
Mas aí você
poderia pensar: a tarefa da Igreja é somente pronunciar oralmente a mensagem da
cruz, pois a assistência social, hospitalar, habitacional e alimentar, são
funções dos governos e de suas políticas e conjunturas. Eu tenho o imenso
prazer de lhe asseverar que este é um grande equívoco. E, por incrível que
pareça, foi o mesmo erro que os discípulos cometeram após um dos sermões do
mestre. Eles queriam despedir a multidão, deixando-a à mercê de suas próprias
condições para se alimentar no caminho. Mas Jesus os repreendeu: “Dai-lhes vós
mesmos de comer." (Mt 14:15-16).
Esta é a
finalidade da Teologia da Missão Integral, isto é, o que ela propõe é uma união
deste altruísmo material com a proclamação oral do Evangelho. Neste sentido, a
TMI consegue conciliar a verbalização da mensagem de Cristo com o auxílio
àqueles que precisam ser alcançados ou mantidos, de modo que nas comunidades
cristãs haja o mínimo de dignidade para todos e que, no mundo, os invisíveis da
sociedade sejam enxergados e socorridos por tais comunidades. Se “nem só de pão
viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”, o oposto também
é verdadeiro.
E não pense você
que este socorro deverá ser perpétuo, inibindo a livre iniciativa de trabalho
ou a independência financeira do socorrido. É óbvio que este amparo é tão
transitório quanto a carência que o solicitou e que sua razão de existir navega
pela nobre vontade de proporcionar o progresso individual às pessoas, a fim de
que, posteriormente, haja nelas a satisfação e a honradez de gerarem os seus
próprios meios. O maná, as roupas e as sandálias que não gastam, têm seu tempo
de vida útil idêntico ao período de permanência no deserto.
Por conseguinte,
perceba que quando Jesus estava tecendo o sermão do monte, ele não se esqueceu
de relacionar aquilo que, em um sentido restrito, nos é essencial para existir
e viver com decência: alimentação e roupas (Mt 6:25-33). E foi exatamente
destes itens que João Batista (Lc 3:10,11) e Tiago (Tg 2:14-16) se apropriaram,
a fim de ensinar ao seu público que a promoção da justiça através das obras é
um fator que complementa a concepção da verdadeira fé, pois ambas são tão harmônicas,
que uma sem a outra se torna uma peça morta da engrenagem.
Contudo, a
integralidade da Missão de Jesus não acaba por aí. Além de alimentos e vestes,
Cristo por duas vezes ampliou a extensão de sua missiologia até o custeio de
abrigo e hospitalidade para com os que precisam de acolhimento (Mt 25:35-45; Lc
10:33-35). A partir daí, podemos perceber que sua abordagem sempre nos ensina
um caminho de evangelização e discipulado que abrange a totalidade do homem, de
forma que as urgências inerentes à pessoa humana devam ser solucionadas,
primeira e principalmente, pela Igreja, seja de modo espiritual ou material.
Olá!
ResponderExcluirUm prazer conhecer seu blog e seus textos!
Gostaria de saber se me permite em especial postar esse texto sobre Missão Integral no meu blog, com os devidos créditos!?
Abraço!
Kadu....
Querido, fique a vontade!
ExcluirDe onde você é? Qual é o seu blog?
Será um imenso prazer contribuir com o seu blog.
Grande abraço!