Igreja Kiss



O pastor pediu mais fogo,
Pra queimar todo o seu povo.
Muita dança e som mais alto,
Pra irmã descer do salto.

Pouco tempo, bem depois,
Muito fogo é bom pra dois.
Bagunça e Língua estranha,
Muita cobra e muita aranha.

Escândalos sexuais,
São os neopentecostais.
O avivamento é emoção,
Buscam apenas a "unção".

O tempo vem e vai passando,
O terno está se desbotando.
O incêndio chega a oprimir,
O povo sente e quer sair.

Poucas saídas para os crentes,
Menos entradas pros doentes.
Os diáconos: seguranças,
Na porta, as cobranças.

Tem que haver o julgamento,
Pra sair de lá de dentro.
Este preço é tabelado,
Pra quem quer o outro lado.

E a porta é bem estreita,
Poucos saem desta seita.
Mas quem realmente quis,
Pôde sair da igreja Kiss.

Era mais uma religião,
Heresia, tempo em vão.
E todos têm certeza agora,
Que a salvação está lá fora.


*Dedico este poema aos vivos e aos mortos. Aos vivos, que sobreviveram ao incêndio da boate Kiss em Santa Maria. E aos mortos, que continuam, voluntariamente, em fogo eterno nas comunidades neopentecostais.

Presbiteriano não morde


Presbiteriano não morde, não late,
Nem uiva no domingo.
Vem no horário, é Britânico.
Só canta hino antigo.

Pastor fala grego, hebraico.
Dá "Bom Dia!" ao Albanês.
E na Bíblia, Teologia,
O Batista é freguês.

Presbiteriano não morde, não rosna,
Nem surdeia a vizinhança.
Não fecha a rua, nem a praça,
Da liturgia não cansa.

Bicho do Sul, educado.
Tem cabelo lambido.
Jovens unidos, mocidade.
Fazem fácil um amigo.

Presbiteriano não morde, não força,
Evangeliza quem dá.
Faz reunião, salgadinhos.
É cauteloso, regular.

Seu culto é tímido, não dança.

Faz baixinho a oração.
É sossegado, manhoso.
Crê também na eleição.

Presbiteriano não morde, concorde!
Há muito tempo é assim.
Hoje em dia não sei mais, 
Se isto é bom ou ruim.

Eu sou a Bíblia

Tudo começou com Sócrates, quando este afirmou confiante: "Uma vida não analisada, não vale a pena ser vivida". Depois, através de dialéticas veementes, este conceito tornou-se clássico e, para a filosofia racionalista, tanto quanto para os mestres hebreus, transformou-se em uma peça fundamental para manter uma ordem de existência, ou seja, primeiro se entende, depois se vive. Teólogos conservadores, desde tempos imemoriais, vêm, então, confirmando esta herança socrática para todas as gerações, pregando uma "avaliação" que é sempre superior a qualquer "experiência". No entanto, é certo que Jesus repreenderia todos eles, lecionando-lhes o oposto: "Uma vida não vivida, não pode ser analisada".

A Palavra de Deus, consolidada na escrita da Bíblia, parece ser, diante deste socratismo teológico, um padrão oficial de diagnóstico da realidade, em que ensaios e testes com os textos bíblicos, são necessários para conclusões sistemáticas sobre a vida. Entretanto, não é para tais propósitos que Deus decidiu se revelar. A Bíblia - quando lida a partir de Jesus - mostra-nos claramente que a Palavra desceu dos céus para habitar em homens. "Jesus", enquanto ser temporal, regional e histórico, foi apenas um instrumento carnal no qual a Palavra, isto é, o Filho de Deus, decidiu nascer e se encarnar (Jo 1:1). A escrita, como canal transcendente neste sentido, serve, portanto, para que Deus, através das eras, possa colocar sua Palavra em seus filhos, formando assim Escrituras vivas.

Por isto, assim como Jesus, você pode se tornar uma Bíblia Sagrada também, pois a Bíblia, escrita ou encarnada, é qualquer canal que contenha a Palavra de Deus. Você com sua linguagem atual, sua contextualização do incontextualizado, seu comportamento cristocêntrico, suas doutrinas práticas, suas leis de amor, seus dogmas de serviço e seu apocalipse de perdão, têm preceitos de uma Bíblia viva, que anda, fala, adverte, edifica e que entra em países antidemocráticos sem a Bíblia-livro, mas completamente preenchido pela verdade teológica sobre a existência humana. Você pode ser o Novo Testamento que continua sendo escrito a cada sessão de amor ao próximo. Leia os Evangelhos e as cartas de Paulo todos os dias, mas saiba que isto só serve para que você sirva.

Somente uma vida espiritual vivida desta forma, pode, concomitantemente, ser pesquisada nas páginas físicas da Bíblia-livro. Pois do contrário, se a espiritualidade ainda permanece morta e estancada, como o indivíduo morto poderia dissecá-la em pedaços e detalhes? Não é possível. Eu sou a Bíblia! A Palavra faz sentido ao mundo quando ela mora dentro do meu peito. Há um sermão do monte escrito no meu coração, que compartilho em vales, ruas, praças, tribos e povos. A análise de tudo isto é de segunda importância, porque a mesma tem de se curvar a uma trindade bem mais teologicamente necessária: o caminho, a verdade e a vida. Aprenda isto hoje e passe mais esta página. E entenda, de uma vez por todas, que Deus ainda escreve Bíblias.

Paredes

Trancafiaram Jesus. Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Luteranos, os da Assembleia, da Maranata, da Quadrangular e de todas as cadeias evangélicas, são os culpados por este infortúnio. Enquanto que, para a Igreja Católica, não haver salvação fora de suas paredes é uma doutrina pública, para nós, cristãos não tão protestantes assim, é um dogma tácito e silencioso. Mas dizer que Jesus está contido apenas na pregação institucional do movimento evangélico e que Aquele só pode ser crido através deste, parece lógico e indiscutível, porém, tal compreensão só constrói limites a um Deus que se utilizou e ainda se utiliza de vários meios além da escrita e da oralidade religiosa.
É fácil subir ao púlpito e dizer que, por exemplo, os povos americanos e pré-coloniais Astecas, Maias e Incas estão queimando no inferno, baseando-se na carrasca interpretação de Romanos 2:12. A conclusão destes que assim entendem, é que se nem a catequese do Catolicismo europeu e nem os missionários reformados os alcançaram a tempo, estas civilizações se perderam nos anais da idolatria pagã. Parece-me, no entanto, que esta elucidação está rodeada de ignorância histórica. Com relação aos Incas, por exemplo, tem-se notícia que Pachacuti, o rei deste povo tribal entre os anos 1438 e 1471, em determinado momento de seu império, começou a questionar a adoração a Inti (o Sol) e, a partir de suas reflexões, concluiu que este não poderia ser Deus porque realizava tarefas definidas como nascer e ser pôr, e porque qualquer nuvem podia diminuir sua radiação. Para ele, nada disto era digno de uma divindade a ser reverenciada.
Pachacuti, então, resgatou repentinamente um valor espiritual esquecido de sua cultura: Viracocha – o Senhor, o Criador onipotente de todas as coisas. Viracocha havia sido considerado pelos ancestrais incas da geração de Pachacuti como o único Deus que se deve adorar. No entanto, seus descendentes desviando-se em direção ao politeísmo pagão, colocaram este Deus em um baú de antiguidades e o ignoraram pelas décadas seguintes. Pachacuti, por conseguinte, ordenou que se voltasse o monoteísmo e a adoração a Viracocha, o Deus dos céus. Até aqui nos interessa (para ler o contexto desta história e sobre os conceitos de “Deus” em outros povos não evangelizados, leia o livro “O Fator Melquisedeque” de Don Richardson). Entrementes, as perguntas que darão um nó em seus neurônios religiosos são as seguintes: Viracocha poderia ser o Yahweh dos judeus? Ele poderia ser o Pai de Jesus? O Deus dos cristãos? Sem dúvida que sim. Deus não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo aos povos (At 14:16-17).
Foi o próprio Jesus que afirmou ter ovelhas em outros apriscos fora do aprisco Judaísmo-Israel-religão e possivelmente do Oriente Médio (Jo 10:16). Paulo diz que “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.” (Rm 10:17), mas ao que parece, ele, no contexto de suas epístolas refere-se, neste sentido, à pregação ao mundo regional em que vivia, pois por duas vezes ele diz que o Evangelho já fora ou está sendo pregado em todo mundo (Rm 1:8;Cl 1:23), o que literalmente não era a realidade. Então, o Cristo, só poderia ser pregado por homens quando estes eram enviados e, por conseguinte, só até aonde os mesmos poderiam chegar (Rm 10:14,15). Àquela altura das missões transculturais, o apóstolo dos gentios, limitado por sua ignorância geográfica, não sabia da existência da América, da Oceania, do Norte da Europa e do extremo leste da Ásia.
É neste momento, então, que ele se torna adepto das palavras do Salmista Davi e humildemente assume: “Mas pergunto: Porventura, [estes outros povos] não ouviram? Sim, por certo: Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; NO ENTANTO, POR TODA A TERRA SE FAZ OUVIR A SUA VOZ, E AS SUAS PALAVRAS, ATÉ AOS CONFINS DO MUNDO” (Sl 19:1-4; Rm 10:18). E é neste espírito democrático e nesta direção universalista que escrevo este artigo. Afirmo que há, indiscutivelmente, na história redentora até aqui, maneiras discriminadas de Deus para se achegar ao homem, elegendo Ele, em determinadas épocas, meios oficiais para tal aproximação, mas, jamais excluindo deste processo, as exceções à regra, isto é, as relações e filiações extraoficiais.

Quem era Melquisedeque? Quem era este indivíduo, rei de Salém? Como ele poderia ser considerado sacerdote do Deus Altíssimo, visto que, até o momento, a revelação estava concentrada e contextualizada em Abrão, o pai da fé? Como este pode dar dízimo àquele? E como aquele pode abençoar este? (Gn 14:18-20) Deus havia se dado a conhecer a um rei entre os cananeus, notórios pela sua idolatria, sacrifício de crianças, homossexualidade legalizada e prostituição no templo. Veja como o Deus Altíssimo não pode existir contido em masmorras institucionais. A salvação da alma, concordo, ocorre apenas e exclusivamente por meio do nome de Jesus. Entretanto, não estou discutindo tais nuances aqui. O fato é que, quando Paulo diz que “todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão;...” (Rm 2:12), o mesmo admiti posteriormente que há um modo de ter e de se guardar a lei, sem o canal da escrita, dos órgãos da revelação e da formalidade judaica.
Ele adverte: “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada NO SEU CORAÇÃO, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se.” (Rm 2:14,15). Mas o que dizer sobre estas pessoas, então? Pode-se dizer que resta para elas uma esperança salvífica, em nada diferente da que salvou as gentes enquanto reinava a morte no mundo, ou seja, de Adão até que a lei fosse exposta a Moisés (Rm 5:14), pois se "os que sem lei [expressa, escrita e pregada] pecaram e sem lei perecerão", como é possível entender a declaração paulina de que “o pecado não é levado em conta quando não há lei” (Rm 5:13)? Entenda, portanto, que quando Jesus morre na cruz do calvário em Israel, sua morte é uma expiação limitada aparentemente apenas aos que a compreendem e que, pela mesma, comungam. Entretanto, quando o cordeiro é imolado antes da fundação do mundo, há, para este mundo, um significado de salvação além das fronteiras, dos tempos, dos povos e das línguas.