Confissões de um guloso

Nem só de pão vivo, mas de toda a palavra que exala da boca de Deus. E digo sempre a Ele: alimente o meu espírito com o seu Espírito, mas continue alimentando também a minha fome de me alimentar de ti. Para tanto, deixe-me farto, porém jamais satisfeito de sua presença. Esta é a minha reza, a minha oração que se repete todas as manhãs.

Adoro refletir sobre a existência de Deus, e é óbvio que perguntas sempre surgem. Mas duvidar às vezes é bom, é proveitoso; pois foi assim, que em algumas vezes na vida, possuído pela síndrome de Tomé, fui confrontado com respostas reais, surpreendentes e até visíveis, que me foram postas e propostas por Deus. Daí, foi inevitável o prazer de ouvi-lo, senti-lo e experimentá-lo deste jeito. Viciei em desafios como este.

Bebi muito leite até aqui. Sou fruto da ingestão de muita Lactose espiritual depois de convertido.  Mas agora, como um glutão faminto de fé, e paradoxalmente já perdoado por esta gula, posiciono-me de forma agradável e prazerosa para ouvir o meu Pastor, para ler os teólogos e pregadores Dinossauros da pós-modernidade, e para repetir, como um gravador quebrado, as palavras dos heróis da fé, que consolidaram a história da Igreja.

Sou um vaso sem fundo, em busca de vinho novo para sanar as minhas velhas rachaduras de ontem. Sou um imenso apreciador do sabor das sagradas letras, que em meu paladar pitoresco, são mentalizadas em direção à prática. Penso em como desvalorizamos a posse da Bíblia que temos a nossa disposição: barata, às vezes grátis, comentada, colorida, figurada e etc. Imagino a Bíblia para a Igreja na Idade Média, uma “palavra de Deus” somente para monges que dominavam a língua Latina, e que burocraticamente, possuíam permissão para lê-la. Agradeço por estar em um país laico, onde não me é imposta nenhuma barreira para sentar aos pés de Jesus, e escutá-lo falar na boca e na voz de seus novos discípulos.         

Já participei de um banquete hoje, com orações, comunhão, muita Escritura, e não menos importante, o partir do pão. Amanhã quero mais, com certeza! Buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, consiste apenas em se alimentar desta mesa farta, ornamentada pelo Rei todos os dias, ao meio dia, à meia noite, no momento que você desejar. Pois quem não mata a fome, a fome mata, quem não mata a fome, some, e quem não mata a fome, a fome come. Isto é o que tem acontecido com cristãos, que se acostumaram com a loucura do Evangelho, e que com ele não mais se empapuçam, como no primeiro amor. Confesso que neste sentido, sou um guloso frenético.

Doce revolução

Todo o esforço é vão. Toda a desgraçada tentativa de continuar tentando entender, se torna desastrosa. Jesus lhe convida para uma doce revolta espiritual, onde você guerreará consigo mesmo, sem, contudo, entrar em guerra, e pela qual não serão necessários atos abruptos de auto-flagelo, para alcançar uma vida com sabor de graça e graça com sabor de vida.

Uma revolução como esta, implica em preenchimento, em paz de dentro para dentro, de forma que o “eu” fique sempre cheio do Espírito, e portanto, vazio de si mesmo. O “aceitar” deste convite, nada  mais é, que uma entrega sem precedentes ao maior revolucionário das eras, que destronou os jugos desnecessários de seus predecessores, e trouxe um caminho de verdade e vida para este mundo tenebroso.

De fato, é um descarrego, do único que pode descarregar a carga carregada de dores existenciais que pesa sobre nós. Jesus te condena à graça, à escravidão à liberdade e ao paradoxo de só se tornar o maior, aquele que se dispõe a servir. Ao longo deste processo, ele precisará destruí-lo com todas as peculiaridades do antigo homem, morto em suas cavernas escuras de pecado, para enfim construir um novo ser, criado pela renovação da mente e pela metanóia do Evangelho.

Esta era a verdadeira intenção do carpinteiro Jesus, um artesão de vidas: mostrar às pessoas que o reino de Deus não é um remédio para ausência da dor, das contradições e dos fracassos, mas sim um império de analgésicos espirituais e de consolação para todas as manhãs. Não foi por acaso que ele mesmo as convidou para uma dança eterna de contentamento, com a intenção de aliviá-las de seu cansaço de existir, da loucura de ser e da infelicidade de não compreender o sentido de tudo isto.

Sinta hoje o prazer doce desta ditadura. Ela é leve e amacia as nossas mazelas. Ela desconsidera as nossas culpas e deixa patente aos nossos olhos, uma nova consciência diante do que somos e de porque somos. Há um propósito informal de Deus para nos libertar de nossa Matrix, isto é, para nos tornar cativos de Suas cadeias, porém agora sem grades. O intuito é nos fazer nascer de novo, em um mundo real e espiritual de repostas e soluções para algo, que só depois desta revolução iremos conhecer: a vida.

VALDEMIRO SANTIAGO

Em nome de Deus, mais um fala,
Em nome da paz, a Igreja se cala.

Em nome do Estado, é Democracia,
Em nome da Bíblia, é profecia.

Em nome do Diabo, mais um instrumento,
Em nome dos adeptos, mais mandamentos.

 Em nome dos crentes, não se pode julgar,
Em nome de Moisés, se deve matar.

 Em nome da Receita, mais um ladrão,
Em nome dos ouvintes, a salvação.

 Em nome da Teologia, um falso profeta,
Em nome do dízimo, mais uma meta. 

Em meu nome, o começo do fim,
Em nome de Jesus, apartai-vos de mim.