Sou Presbiteriano, e portanto, falo de dentro: se por um lado, há idolatria às imagens de barro e de ouro em forma de santos no Catolicismo, por outro, há adoração à “sã” doutrina por parte dos evangélicos reformados que repudiam essa primeira veneração. E se de um ponto de vista, existem cultos organizados e dirigidos por heresias da mente no universo neopentecostal, da vista de outro ponto, se cultua no meio tradicional as doutrinas que condenam estas apostasias. Entretanto, não sou presbiterianista, e por isto, estou fora dessa.
O contexto construtivo da linha de raciocínio Calvinista é de fato fascinante. Sua volta marcante à “Sola Scriptura” (Só Escritura) mexe com qualquer espírito patriota-celestial que queira seguir à risca os preceitos e princípios divinos. Todavia, tal esforço de retorno não pode transformar a singularidade de adoração a Deus em um “dobrar de joelhos” diante destes fundamentos ou perante o seu resgatador. Mas acontece o oposto: celebram com cultos (cultuam?) o nascimento e a morte de João Calvino (João ninguém perante Deus) e até estátua erigem em seu nome (lembra-se dos santos?).
Assim, confundir Deus com este conjunto de interpretações humanas a respeito Dele, tornou-se marca vigente de qualquer reformado desinformado que se preze. Daí, reuniram o material vetero e neotestamentário, e estabeleceram a “Confissão de Fé de Westminster”; depois, sistematizaram a narração do Novo Testamento e criaram a “Constituição da IPB”. Bem! Tal propósito não é negativo, de forma alguma o é. Entrementes, o valor que se dá a tais livretos é equivocado e displicente: uma inversão de valores. Deus doutrina, porém não é doutrina; Deus não é sistema e nem sistematiza nada (Isto é coisa de homem, de homem cristão).
Já testemunhei irmãos de Igreja dizerem: Eu amo a nossa doutrina. Então me pareceu que Jesus estivesse ensinado: “ame o batismo infantil como a ti mesmo” ou “toma o seu dízimo e siga-me” e até “Ide por todo mundo e pregai a predestinação a toda criatura”. Estes pensamentos, mesmo que no Tártaro do silêncio, são mais comuns do que se imagina. E foi através deles que a pregação do Evangelho tornou-se a teologia sistemática e que as reuniões dos discípulos se transformaram no Sinédrio Evangélico, onde se lê diariamente: "Pela doutrina sois salvos, mediante a sua confissão de fé, e isto vêm de vós, e não de Deus" (Ef 2:8).
Diante destes fatos, da inequilibrada essência de todos os homens e da imperfeição de suas instituições, posso afirmar com toda a sensatez: a IPB prega explicitamente a infalibilidade das Escrituras, mas infeliz e implicitamente prega a infalibilidade de sua interpretação das mesmas. Mesmo assim, é preciso dizer ainda que toda denominação que se autodenomina “evangélica”, tem suas virtudes e mazelas. E portanto, nós não somos diferentes, aliás nem um pouco, pois cumprimos este requisito. Por isto, precisamos sanar esta falha comportamental de nortear os nossos louvores às diretrizes doutrinárias, e voltar a um outro não menos importante pilar da Reforma: “Soli Deo Gloria”, ou seja, só a Deus glória.