Pra não dizer que não falei dos amigos
É observado nos relacionamentos
humanos que enquanto o amor serve para que as partes se completem existencialmente,
a amizade existe para que os indivíduos que dela são protagonistas, se reafirmem
em personalidade. Relações amigáveis, portanto, pressupõem semelhanças
comportamentais, de pensamento e de gostos ou desgostos. No entanto, assim como
no amor conjugal ou pré-conjugal é preciso que haja estas mesmas semelhanças,
sendo estas também as características da amizade entre um casal, há, da mesma
forma, um caminho sobremodo excelente pelo qual se deve trilhar na formação de
uma amizade não conjugal. É que, na verdade, este tipo de amizade não deveria
excluir o sentimento supostamente exclusivo de casais: o amor. Repare que
Jônatas passa a amar a Davi como à sua própria alma (1Sm 18:1).
Desta compreensão, surge para nós
um panorama afetivo mais completo, isto é, pode-se amar um amigo e pode-se
também ser amigo de quem se ama, neste último caso, um namorado, uma noiva ou
um cônjuge. A priori, a amizade fundamentada em amor, gera confiança e
confidência (Jo 15:15); produz presença indiferente aos momentos (Pv 17:17);
traz alegria ao coração (Pv 15:30); e garante qualidade superior à de irmão em
detrimento de quantidades superficiais (Pv 18:24). Sobretudo, o amigo que ama é
aquele que aponta o caminho de morte, e que no dia mau se posiciona diferente
daqueles que mais se parecem “inimigos fraternos”, por se omitirem ou apenas
balançarem a cabeça. Este amigo executa, assim, o conselho de Salomão: “Melhor
é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo
que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos.” (Pv 27:5,6).
É ideal, no entanto, que outro
aspecto seja peculiar em uma amizade como a que acabamos de apresentar: o da
tangibilidade no contato, ou seja, a presença física, a proximidade e os
encontros periódicos são essenciais. Não dá pra ser amigo de verdade através do
face, da webcam, do skype, do
celular, de e-mails, MSN ou qualquer
outro meio virtual aparentemente eficaz para isto. “Mais vale o vizinho perto
do que o irmão longe.” (Pv 27:10). “O Senhor falava
com Moisés face a face (e não face a face), como quem fala com seu
amigo;...” (Ex 33:11). Este é um princípio importantíssimo pra se preservar na
pós-modernidade. A melhor operadora ainda é o encontro, com “fale ilimitado”
ilimitado mesmo. Jamais troque uma mesa de lanche e risadas por uma sala de
bate-papo. Não barganhe suas amizades com perfis de redes sociais.
Por conseguinte, ore sem cessar
por seus amigos. Nem sempre eles serão crentes, de sua igreja ou de sua
mocidade. Neste caso, ore por eles mais ainda. Queira que, pela fé, eles, um
dia, sejam chamados “amigos de Deus”, como foi o próprio Abraão (Tg 2:23). É
óbvio que há um grau limite para que nos relacionemos como verdadeiros amigos
de indivíduos ainda incrédulos, mas este grau não deve se diminuir apenas ao
“Bom dia!” ou ao “Como vai?”. Um impedimento que envolve diretamente a amizade
dos crentes com os ímpios é aquela mesma discriminação judaica pelas massas
sociais diferentes de seu padrão, ou seja, por homossexuais, eunucos,
prostitutas, samaritanos, publicanos, mendigos, enfermos e demais pecadores. Não
confunda “conviver”, “amar” e “ser amigo” com “andar no conselho dos ímpios” ou
com “se deter no caminho dos pecadores”. A seletividade e a formação de panelas
e grupos fechados excluem em todos os ângulos os valores do acolhimento, da
graça, do evangelho, e da certeza de que é Deus que coloca estas pessoas em
nossa caminhada.
É assim que deve ser: o amor na amizade e a amizade no
amor. Os dois sentimentos devem andar de mãos dadas, em abraços, apertos,
palavras, lágrimas, sorrisos e dias nublados. Entretanto, numa sociedade
machista e de hegemonia masculina como é a brasileira, o homem sai perdendo
neste sentido. Talvez pelo empirismo da ideia barata e de cunho maldoso da
“boiolagem”. Contudo, há de se perceber que
esta é apenas uma realidade local, temporal e coletivamente subjetiva. Os varões
judeus, por exemplo, se cumprimentam com o ósculo santo (um beijo no rosto),
que é uma saudação cultural e religiosa, mas que normalmente evidencia a
afeição mútua de uma amizade fortificada. A você, portanto, que buscar amar
verdadeiramente os seus amigos, ser-lhe-á concedido lealdade, compromisso,
silêncio, cobertura e encaramento de seus companheiros, considerando que só
isto fará com que ambos entendam como Jesus pôde dar a vida por suas amizades
(Jo 15:13).
Éden, ética e ecoespiritualidade
Fomos jardineiros contratados pelo proprietário
da casa. Ele fornece os insumos, e nós, a mão de obra. Foi assim o contrato
verbal selado com o primeiro responsável pela manutenção do jardim. O Éden foi
uma maquete natural do Planeta Terra, e, portanto, não necessitava de uma
gestão mais qualificada que a de Adão. Dar nomes aos animais daquele
ecossistema era o suficiente (Gn 2:19,20), posto que pra isto, Adão só precisou
de tempo, não de planejamento. Por conseguinte, refletir se o Éden foi no
Iraque ou na Armênia, não nos interessa. O que importa é saber que a relação
homem-jardim agora é global e que tempo é um luxo do qual não dispomos em
demasia.
No início da formação da civilização humana, o
Homo Sapiens, enquanto indivíduo em descoberta de outros habitats e espaços
geográficos distintos, concebeu e deu forma a instrumentos funcionais aos quais
damos o nome de "ferramentas". Estes objetos, formados, na maioria
das vezes, da fusão de pedra, cipó e madeira, eram usados para abrir frutos
maciços, mexer a terra, caçar animais, pescar em rios, dentre outras atividades
inerentes à alimentação. As ferramentas eram a extra-corporificação dos
próprios braços, e foi a partir delas que aconteceu a primeira onda de
transição social do homem, ou seja, o homem deixava de ser nômade, andarilho e
desbravador, para tornar-se sedentário, fixo e agricultor. A Revolução Agrícola
foi o primeiro rompimento do homem com suas atividades de sobrevivência e labor
tradicional.
A partir de 8000 a.c – segundo datações de
registros agrícolas – a agricultura manteve-se em hegemonia, como principal
núcleo familiar, tribal e comunitário, até os séculos XVII e XVIII. Cuidamos
bem da Terra até aqui. A agricultura ferramental utilizava-se da natureza como
a própria natureza se utiliza de si mesma, isto é, sem desperdícios evitáveis,
sem alteração química e artificial de elementos, com utilização sustentável de
recursos, com extração controlada pela necessidade. Os agricultores tratavam a
natureza e o solo como entes mantenedores da existência humana. O calor e o
frio, a chuva e a seca, o dia e a noite, eram mutações normais da "Mãe
Natureza" em favor de todo e qualquer processo agrícola. Estas forças
naturais, no entanto, não podiam ser, por ausência de evolução intelectual,
vilipendiadas pela ação tecnológica do ser humano.
Mas, então, em 1712 disse o homem: haja o motor,
e houve o motor. Mas viu Deus que isto não era tão bom. Neste momento em que a
estrutura da macrossociedade ainda estava alicerçada na terra, surgia, então,
uma nova e inédita abstração do homem: o motor a vapor. Criado por Thomas
Newcomen, o motor a vapor tinha como fluído de trabalho o vapor de água sob
alta pressão e temperatura. Necessitando de água para produzir vapor, deste
para fabricar energia e desta para gerar força mecânica, esta invenção foi,
inconscientemente, a extra-corporificação do estômago humano. Posteriormente, o
motor de combustão interna veio representar melhor esta inevitável comparação.
E foi ele que proporcionou ao mundo, a segunda onda de transmutação tecnológica
humana, marcada pela tão faraônica Revolução Industrial.
A Revolução Industrial foi a mudança mais
transformacional do milênio. Seguindo a sua causa, a maquina passou a ser
amplamente experimentada e usada em processos produtivos de todo o mundo
comercial. O foco deixou de ser o produto encomendado e passou a ser a produção
em massa. Mediante tanto desenvolvimento em breve espaço de tempo, as cidades,
com suas indústrias e urbanidade tóxica, começaram a conhecer a poluição em
escala. A queima do carvão mineral despejava na atmosfera dos centros
industriais europeus, toneladas de poluentes. E do Reino Unido para o mundo,
não demoraria muito para as fábricas se aproximarem e se instalarem como
organizações protagonistas deste novo cenário mundial. Lentamente, o Éden
começava a ser desfazer.
E o processo começou a todo o vapor. O homem se
colidiu com novas técnicas de automação e não se fez omisso. Concluiu que não é
necessário calejar as mãos para arar a Terra ou colher frutos. Descobriu que
precisava de funcionários somente para controlarem seus brinquedos de ferro. A
burguesia não mediu esforços para a maximização do processos produtivos. Não
mensurou as consequências de um investimento implanejado, mas frenético. Então,
foi inevitável que o planeta chegasse até a nossa contemporaneidade implorando
socorro. Por não cessar de substituir as baterias vivas, ou seja, a força de
trabalho humana, por fontes de energia automáticas, o custo tornou-se
proporcional ao lucro. Queimar combustíveis, emitir gases, matar e desmatar
floras, extinguir espécies da fauna, produzir excesso de lixo, secar fontes,
poluir mares, dentre outras mazelas, se transformaram nas ações ávidas do
industrialismo.
Então, as reações não puderam se esconder por
muito tempo. A emissão progressiva de poluentes na atmosfera ocasionou na
abertura de um buraco na camada de ozônio, que permitindo uma maior entrada de
raios solares, tem gerado a expansão gradual da temperatura na Terra, esta, por
sua vez, faz com que este aquecimento global proporcione o derretimento das
geleiras, e estas se desfazendo, aumentam o nível natural dos oceanos. Este
nível, em estado de crescimento, provoca um distúrbio no ciclo original dos
mares, construindo pequenos ou maiores "tsunamis" imprevisíveis e
descontrolando os ventos já mapeados, os quais podem se transformar em
furacões, tufões, tornados ou ciclones mais ou menos periódicos. Todos estes
efeitos somados ao extrativismo vegetal ilegal, à contaminação do solo e das
fontes e afluentes naturais de água doce, e da produção, também em massa, de
lixo de matéria prima não renovável, nos levaram ao apogeu do problema.
Assim, creio que o "hoje" se tornou
tarde para nós, mas o Sol ainda não se pôs sobre nossas cabeças. Há tempo, mas
sem planejamento, há perda de tempo. Por isto, precisamos evocar a ética e a
ecoespiritualidade como padrões primazes de conduta e engenharia. Para tanto, a
ecoespiritualidade se encaixa primeiro nesta busca perene pela saúde do
planeta. "Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do
Éden PARA o cultivar e o guardar." (Gn 2:15). O Éden, como supracitado
acima, era o estereótipo do Planeta Terra. Adão, por outro lado, era o cabeça
conjectural da raça humana e de toda a criação, no qual estavam depositadas
todos os fins da racionalidade e do progresso. Portanto, quando Deus revelou o
seu propósito em colocar o homem naquele jardim, ele estava optando por
desmitificar o ideal teológico de que a providência e a preservação da vida não
tem nenhuma participação cooperativa do ser humano.
Por conseguinte, Adão escolheu desobedecer ao
Criador, trazendo morte e imperfeição às realidades criadas. “A ardente
expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação
está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a
sujeitou (Adão), na esperança de que a própria criação será redimida do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque
sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Rm
8:19-22). Daí, a necessidade de uma espiritualidade saudável e opulente, antes
da conexão cristianizada e espiritual com o Criador, trata-se de uma
consciência ecológica e cósmica. Deus será descoberto em todos os processos da
vida, em sua evolução natural e cultural. Jesus, como imagem e função de
restaurador, não veio tornar os humanos cristãos, mas tornar os cristãos
humanos – homens à sua imagem.
Nós somos os jardineiros. Ao contrário dos
protestos da Igreja Católica, nós é quem devemos transpor o rio São Francisco
para o Nordeste setentrional. Nós podemos trazer de volta à vida, a espécie do
mamute encontrado com sangue preservado em estado líquido, em uma ilha ao Norte
da Sibéria. Nós temos a permissão de transformar água salgada em água doce,
através do processo de Dessalinização criado por Israel. Nós devemos explorar o
espaço, os astros, o núcleo da Terra. A ciência é o instrumento intelectual de
providência que Deus concedeu a Adão e seus descendentes. Ela é o suprassumo
dos insumos para o trabalho. E é com ela que devemos consertar as próprias
consequências de seu mau uso.
A responsabilidade é nossa. O âmago da questão
não é a impotência, pois esta não existe, mas sim a escolha: manter-se
indiferente ao desfalecimento do planeta ou recorrer às nossas capacidades para
reverter o quadro. E como disse a própria teoria do caos: “Consta que algo tão
pequeno, como o voo de uma borboleta, poça causar um terremoto no outro lado do
mundo.” Os efeitos de nossa omissão é a gênese do juízo final: “E haverá em
vários lugares grandes terremotos, e fomes e pestilências; haverá também coisas
espantosas, e grandes sinais do céu.” (Lc 21:11); “E haverá sinais no sol e na
lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo
bramido do mar e das ondas.” (Lc 21:25); “E farei aparecer prodígios em cima,
no céu; E sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumo.” (Atos 2:19).
Não pense que estes textos tratam de ações
intrinsecamente espirituais de Deus, desconexas com as ações do homem em detrimento
da Terra, pois os mesmos narram consequências humanas e não providências
divinas. É sabido por todos que peixes estão morrendo com câncer, que a chuva
está cada vez mais ácida, que riachos estão secando, que as estações do ano
estão em caos de organização. O cenário que Pedro previu em sua segunda
epístola, já começa a bater às portas com o Aquecimento Global (a primeira
alegoria da justiça de Deus): “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor,
no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão
abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Visto
que todas essas cousas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que
vivem em santo procedimento e piedade,...” (2Pe 3:10,11).
Chegamos à raiz do problema: a ausência da ética.
A falta de um “santo procedimento e piedade” não se referem somente ao pecado e
à santidade na prática. A ética é o fator que opta sempre pela preservação dos
princípios que protegem a vida. Se existe a Declaração Universal dos Direitos
Humanos para padronizar mundialmente o comportamento ético referente à
sociedade, ao trabalho, à cidadania e a outros mais, há também um documento
importantíssimo no que tange à ética para com a natureza. Falo da Carta da
Terra. A Carta da Terra é o resultado de uma década de diálogo intercultural,
em torno de objetivos comuns e valores compartilhados. Seu projeto começou como
uma iniciativa das Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma
iniciativa global da sociedade civil. Em 2000, a Comissão da Carta da Terra,
uma entidade internacional e independente, concluiu e divulgou o documento como
a carta dos povos.
Desta feita, podemos concluir que assim como Deus
dá chuvas e estações frutíferas a todos os povos, independente de suas crenças
e devoção (At 14:16-17), a ética ambiental também deve partir de todas as
nações e culturas, sejam estas cristãs ou não. Para tanto, os cidadãos de
culturas pagãs tornam-se indesculpáveis, visto que os frutos, o verde e a
fartura estão sobre eles da mesma forma. A ética sustentável, sobretudo, está
fundamentada na preocupação com as gerações futuras. Ela depende de um
vislumbramento a longo prazo do cenário global em que os descendentes dos
preocupados deverão sobreviver. Portanto, a ética ecológica é, a priori, um
cuidado com os próprios filhos dos filhos e, a posteriori, trata-se de um
carinho para com aqueles que junto aos primeiros, darão prosseguimento à
existência de nossa raça.
Contudo,
aos homens, conscientes ou inconscientes de seu dever para com o Éden, firma-se
o contrato com o dono da casa, para prestação do serviço de jardinagem. Para
isto, convoco, a princípio, as igrejas cristãs, os movimentos
paraeclesiásticos, as comunidades protestantes, as entidades católicas, as
sociedades bíblicas e todas as que a estas se assemelham. Em segundo plano,
grito às demais pessoas deste planeta, que aqui residem e que dos recursos do
planeta sobrevivem. Se você mora em uma estação espacial, não falo com você. Se
você não se alimenta ou não mantém seu organismo vivo com insumos da natureza,
também não lhe dirijo aqui a palavra. Dialogo com aqueles, que dependem dos
animais e das plantas, do Sol e da Lua, da Camada de Ozônio, da água doce, de
um clima favorável. Falo com aqueles, que com estes entes em estado perene de
desequilíbrio, não poderão reler este texto daqui a algum tempo. É necessário
planejamento e prevenção, não remediação. Para tanto, penduro hoje uma placa
nesta casa abandonada: PRECISA-SE DE BONS JARDINEIROS.
Nota falsa
Pouquíssimos cidadãos agregam valor ao conhecimento da diferença entre uma nota verdadeira e uma falsa. O papel-moeda utilizado em muitos países do mundo, vez ou outra, é alvo de diversas falsificações de quadrilhas especializadas. A aparência genérica, o tamanho, as cores e o material são os mesmos de uma nota emitida oficialmente. No entanto, há alguns sinais específicos implantados em sua versão verídica, que apenas a mesma pode conter, e que nenhuma facção criminosa pode usurpar. Basta a todos o interesse de conhecer estas marcas originais. Com o Evangelho de Jesus, também é assim. Desde tempos imemoriais, há grupos que se levantam em favor de pseudoverdades semelhantes às assertivas que Cristo pregou.
Assim, creio que há dois motivos pelos quais as heresias surgem de forma progressiva e trivial em alguns indivíduos. O primeiro se trata de uma vontade consciente e pragmática que faz com que um lobo ou uma alcateia crie outro sistema aparentemente coeso de crenças e de vida cristã, objetivando adquirir ganhos financeiros, controle emocional, superestimação pessoal, dentre outros prazeres. Sobre estes, podemos sugerir um paradoxo, citando suas marcas, as quais não se encontram nas notas verdadeiras. E são elas: desejo frenético por quantidade de adeptos; ênfase sensacionalista em milagres; surgimento explosivo e midiático; “teologias” de escambo entre dízimos e bênçãos; sermões extensos baseados em experiências pessoais.
Por ora, a respeito destes estelionatários, não me aterei as suas cobiças e jactâncias, pois tais dissabores são frutos de um coração perverso, e deste coração só o Espírito pode tratar. Limito-me aqui a dissertar apenas sobre a segunda e mais corriqueira causa dos desatinos doutrinários. Falo do despreparo ao se interpretar as Escrituras, "a mãe de todas as heresias", como disse o grande apologeta Martinho Lutero. Não sou a favor de uma hermenêutica fatalista que estabelece o grau dos óculos com o qual devemos ler a Bíblia. Mas sou militante por princípios que nos norteiam ao conceito da “Bíblia pela Bíblia” em paralelo com a leitura imparcial de documentos seculares referentes aos variados contextos bíblicos.
Para citar um exemplo deste modelo de leitura, digo, a priori, que o texto precisa ser lido de forma literal, exceto quando o próprio ou outro texto invalide esta premissa. A lonjura entre interpretações literais e alegóricas é, historicamente, o fio condutor dos conflitos entre a enferma e a sã doutrina. E é com esta distância que devemos ter uma cautela piedosa, para falar ou nos calar, caminhando conforme a melodia do texto. Foram inúmeras as vezes com as quais me deparei frente a discursos contundentes do evangelho, porém, entranhados com conjecturas sobre anjos, céu, inferno, sonhos e outras temáticas bíblicas, que saíram do papel e tomaram formas estranhas na mente de pregadores incautos. “Dê asas a sua imaginação” não é um bom conselho no que concerne ao púlpito e a literatura cristã.
Outra direção que penso ser bastante desprezada por aqueles que se dispõem a dissecar o texto bíblico, é o contato com as línguas originais em que o texto foi escrito e o domínio da norma culta do idioma em que se lê a sua tradução. O descaso para com este conhecimento técnico, torna inevitável o surgimento de visões teológicas distorcidas e esdrúxulas. Foi o caso do pedreiro e “pastor” Justino de Oliveira, de Serra, na grande Vitória (ES), que começou a ensinar a bigamia por ler na Bíblia o termo “adultera” em vez “adúltera”, em Oséias 3:1. Reconheço que adquirir um bom acervo polilinguístico não é tarefa fácil, mas com os instrumentos que nos são acessíveis atualmente, não temos do que murmurar. Ademais, falo de domínio básico, não de know-how na área.
Admito também que hoje é complexo determinar a totalidade da sã doutrina sem altercações, posto que não temos nenhum órgão da revelação ao nosso dispor, como os da igreja primitiva tinham os apóstolos. Mesmo havendo comunidades cristãs que ainda podem ser consideradas sadias, equilibradas e maduras, há sempre de se existir, entre elas, discrepâncias categóricas do ponto de vista ortodoxo. Isto é natural, pois há uma parcialidade perene em nossa observação. O problema que discuto aqui é outro, ou seja, refere-se a distanciamentos extremistas daquilo que o Novo Testamento propõe e de como o mesmo deve ser lido. Escatologia, lei mosaica, dízimos e ofertas, dons espirituais, sacramentos e outros mais, são os assuntos preferidos dos hereges que “pretendendo passar por mestres da lei, não compreendem nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.” (1 Tm 1:7)
Neste espírito apologético, concluo advertindo a todos que procurem existir à imagem e semelhança dos de Bereia, que estabeleciam paralelos diários entre os discursos e as Escrituras (At 17:11). Fique vigilante sob a égide do evangelho. Não o ultrapasse. Não o violente. Assim, será mais simples identificar em meio a multidão as vozes que destoam do que se pode considerar a nossa confissão de fé. Nossa atitude para com estas notas falsas deve-se pautar na intercessão para que se convertam ao bom caminho, e não em uma inquisição precipitada que os condene ao inferno. Separar o joio do trigo não é tarefa nossa. Contudo, importa que preguemos a existência de "somente um corpo, um Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus e Pai de todos.” (Ef 4:4-6). O que se perder ao longe desta declaração, deve ser considerado anátema.
Assim, creio que há dois motivos pelos quais as heresias surgem de forma progressiva e trivial em alguns indivíduos. O primeiro se trata de uma vontade consciente e pragmática que faz com que um lobo ou uma alcateia crie outro sistema aparentemente coeso de crenças e de vida cristã, objetivando adquirir ganhos financeiros, controle emocional, superestimação pessoal, dentre outros prazeres. Sobre estes, podemos sugerir um paradoxo, citando suas marcas, as quais não se encontram nas notas verdadeiras. E são elas: desejo frenético por quantidade de adeptos; ênfase sensacionalista em milagres; surgimento explosivo e midiático; “teologias” de escambo entre dízimos e bênçãos; sermões extensos baseados em experiências pessoais.
Por ora, a respeito destes estelionatários, não me aterei as suas cobiças e jactâncias, pois tais dissabores são frutos de um coração perverso, e deste coração só o Espírito pode tratar. Limito-me aqui a dissertar apenas sobre a segunda e mais corriqueira causa dos desatinos doutrinários. Falo do despreparo ao se interpretar as Escrituras, "a mãe de todas as heresias", como disse o grande apologeta Martinho Lutero. Não sou a favor de uma hermenêutica fatalista que estabelece o grau dos óculos com o qual devemos ler a Bíblia. Mas sou militante por princípios que nos norteiam ao conceito da “Bíblia pela Bíblia” em paralelo com a leitura imparcial de documentos seculares referentes aos variados contextos bíblicos.
Para citar um exemplo deste modelo de leitura, digo, a priori, que o texto precisa ser lido de forma literal, exceto quando o próprio ou outro texto invalide esta premissa. A lonjura entre interpretações literais e alegóricas é, historicamente, o fio condutor dos conflitos entre a enferma e a sã doutrina. E é com esta distância que devemos ter uma cautela piedosa, para falar ou nos calar, caminhando conforme a melodia do texto. Foram inúmeras as vezes com as quais me deparei frente a discursos contundentes do evangelho, porém, entranhados com conjecturas sobre anjos, céu, inferno, sonhos e outras temáticas bíblicas, que saíram do papel e tomaram formas estranhas na mente de pregadores incautos. “Dê asas a sua imaginação” não é um bom conselho no que concerne ao púlpito e a literatura cristã.
Outra direção que penso ser bastante desprezada por aqueles que se dispõem a dissecar o texto bíblico, é o contato com as línguas originais em que o texto foi escrito e o domínio da norma culta do idioma em que se lê a sua tradução. O descaso para com este conhecimento técnico, torna inevitável o surgimento de visões teológicas distorcidas e esdrúxulas. Foi o caso do pedreiro e “pastor” Justino de Oliveira, de Serra, na grande Vitória (ES), que começou a ensinar a bigamia por ler na Bíblia o termo “adultera” em vez “adúltera”, em Oséias 3:1. Reconheço que adquirir um bom acervo polilinguístico não é tarefa fácil, mas com os instrumentos que nos são acessíveis atualmente, não temos do que murmurar. Ademais, falo de domínio básico, não de know-how na área.
Admito também que hoje é complexo determinar a totalidade da sã doutrina sem altercações, posto que não temos nenhum órgão da revelação ao nosso dispor, como os da igreja primitiva tinham os apóstolos. Mesmo havendo comunidades cristãs que ainda podem ser consideradas sadias, equilibradas e maduras, há sempre de se existir, entre elas, discrepâncias categóricas do ponto de vista ortodoxo. Isto é natural, pois há uma parcialidade perene em nossa observação. O problema que discuto aqui é outro, ou seja, refere-se a distanciamentos extremistas daquilo que o Novo Testamento propõe e de como o mesmo deve ser lido. Escatologia, lei mosaica, dízimos e ofertas, dons espirituais, sacramentos e outros mais, são os assuntos preferidos dos hereges que “pretendendo passar por mestres da lei, não compreendem nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.” (1 Tm 1:7)
Neste espírito apologético, concluo advertindo a todos que procurem existir à imagem e semelhança dos de Bereia, que estabeleciam paralelos diários entre os discursos e as Escrituras (At 17:11). Fique vigilante sob a égide do evangelho. Não o ultrapasse. Não o violente. Assim, será mais simples identificar em meio a multidão as vozes que destoam do que se pode considerar a nossa confissão de fé. Nossa atitude para com estas notas falsas deve-se pautar na intercessão para que se convertam ao bom caminho, e não em uma inquisição precipitada que os condene ao inferno. Separar o joio do trigo não é tarefa nossa. Contudo, importa que preguemos a existência de "somente um corpo, um Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus e Pai de todos.” (Ef 4:4-6). O que se perder ao longe desta declaração, deve ser considerado anátema.
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