O mentor
do marxismo profetizou: "A religião é o ópio do povo". Karl Marx não
estava referindo-se ao Evangelho, nem a religiões asiáticas ou afroameríndias.
Ele tratava, nestas palavras, da insana Inquisição Católica, das heréticas
indulgências, da subserviência dos clérigos para com os reis, da ausência de
lhaneza nos discursos de púlpito, das catedrais obsoletas que alienavam
multidões, do cartel no requerimento de ofertas e, não menos importante, da
postura dos reformados, que em nome do Deus de Calvino, assassinaram milhares
de anabatistas afogados.
A
história da fé é contra a fé da história contada.
A
religião é boa, não insisto na oposição. É intrínseco a nós, homens, a
tentativa de organizar organismos inorganizáveis, como é o Reino de Deus, a
Igreja universal e invisivelmente reunida no corpo de Cristo. Mas nós demos
ordem demais ao céu. Ignoramos o “Kairós” de Jesus e elegemos Matias. Deixamos
de sentar em távolas redondas com o Rei Artur, para eleger servos oficias, os
diáconos, em detrimento de servos comuns que, sendo cristãos, deveriam, da
mesma forma, tratar da causa das viúvas e dos órfãos. Instituímos presbitérios
ao invés de educar e conscientizar os leigos para, em comunidade e congregação,
tomarem posições sadias e sensatas como as que se pensa só os presbíteros
tomarão.
A
hierarquia é a nossa mãe idosa.
Imploramos
a Deus por guias e líderes, e assim como os israelitas que pediram um rei a
Samuel, pois os outros povos tinham reis (1Sm 8:1-22), suplicamos por pastores,
pois há rabinos, Imãs, gurus, sadus e padres nas religiões. Mas Jesus não era
para ser o único, intransferível e irrepresentável Pastor de ovelhas, guia
espiritual e cabeça de seus corpos locais? (Mt 23:8-12). Não é do nosso
interesse a reunião e união onde todos são profetas, se consolam, se edificam e
se advertem. Haverá sempre um modelo retangular de distância horizontal entre a
arquibancada do povo e os assentos setentrionais do clero.
Que
reforma é esta que não refaz a forma?
Vê como
todo este parlamento é coisa nossa e não estava na visão, missão e no plano
estratégico de Jesus? Você entende que não podemos ler a Bíblia a partir da
igreja concebida do Novo Testamento, visto que esta também carregava a
possibilidade do erro e que tendo nascido pelas mãos de homens, foi gerada em
pecado? Compreende que, perpetuamente, haverá as mesmas conclusões fatídicas
“Eu sou de Calvino, eu de Armínio, eu de John Wesley, e eu de Cristo? (1Co
1:12,13) Percebe que enquanto o Evangelho existir para os homens e os homens
existirem para o Evangelho, sempre existirão altercações entre Cristo e o
Cristianismo? Você acha que Jesus, assim como Paulo, entregaria o jovem pecador
de 1Co 5:1-5 a Satanás ou reafirmaria o mesmo que disse à mulher adúltera (Jo
8:11)?
Nós somos
o intestino grosso do problema.
Ainda
está em nós “os lugares, as roupas, os termos, os tempos, as cerimônias, os
modos, os papéis, as letras” e todo o resto. Olhamos para trás e nos gloriamos de dois
milênios de existência e sobrevivência. Você acha que Paulo, se vivo, não
escreveria cartas a sua igreja? Você pensa que o Novo Testamento é, assim como o
Livro dos Espíritos de Allan Kardec, uma enciclopédia de respostas, uma receita
de bolo, uma bula de remédio para todas as questões, gerações, tempos e
lugares? Você não enxerga o porquê de Jesus deixar um sucessor na Terra? Um
Espírito Santo que sopra onde quer? Um Deus dentro de nós, que testifica
conosco realidades contemporâneas inexistentes na Bíblia, que teólogos e teólogos
insistem em ignorar?
E depois dos idolatrados pensadores, surgiram os “pensa
em dores”.
A Teologia da Prosperidade, a corrente da libertação de crentes já
libertos, os milagres com hora marcada, a oração poderosa, as campanhas de
descarrego, a desdemonização via espetáculo, as cruzadas Benny Hinnadas e todo
o arsenal contra as dores e mazelas humanas, tomaram o trono da Reforma
Protestante. Surgia, então, a Reforma da Emoção. Os Brasileiros assassinaram o Evangelho da graça! O Catolicismo
no país mais católico do globo, conseguiu indireta ou diretamente contaminar os
que protestavam contra ele. Nós, que chutamos a santa, chutamos o balde desta
vez, e como os católicos e seus santos, demos início a nossa materialização da
fé cristã. Através de lenços da benção, copos d’água, sal grosso, meias e até
roupas íntimas, as Igrejas evangélicas e maquiavélicas estão justificando o
Deus invisível.
Mas os
fins não justificam os meios. Nem tudo que dá certo, é certo.
Por conseguinte, o pluralismo cristão é maior que o
religioso, e por isto a guerra santa entre denominações transformou o púlpito que
já possuía a sua negativa religiosidade, em uma fábrica de heresias, de
novidades antropocêntricas, de prosperidades utópicas, de misticismo
hipnotizante. Os líderes dinossauros do Evangelicalismo nacional estão
divididos não só por milhares de ideologias, mas também por inimizades,
porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções e invejas (Gl 5:20-21).
Pastores estão pregando contra cantores gospels. Blogs estão difamando estes
pastores. Que céu infernal!
“Mas entre vós não é assim”, disse Jesus a João e
Tiago.
“Placa
de Igreja salva!”: é o senso dos evangélicos. Afinal, “a mão de Deus está aqui”
como diz o slogan comercial de uma igreja mundial. O marketing para atrair novos
membros é monopolizar o poder de Deus. É manipular o divino. Novos métodos: igrejoterapia,
aliás, esta é a nova onda dos surfistas cristãos, que a cada maré de tempo se
afogam em novidades e atualizações do Cristianismo. A igreja se tornou um clube
social e o evangelho: um passatempo. Falo de uma igreja hospital, que atende em
sua UTI, os desejos subjetivos e egoístas de cada paciente; um espaço para desfile
de moda pelos corredores eclesiásticos e um pouco de roupas indecentes. As
pessoas não prestam mais cultos, porém o assistem ao lado de Deus.
A
ordem litúrgica é: “onde há o Espírito, aí há desordem” (2Co 3:17)
Novas perspectivas: Pequenas igrejas, grandes
negócios. O altar evangélico que não é altar nenhum, tornou-se um picadeiro que
só exibe a benção de Jesus e nunca o Jesus da benção. Revela os milagres,
jamais o milagreiro. Este é o neopentecostalismo. O movimento do outro extremo
da estrela, os xiitas da cruz e da espada.
E assim vamos escrevendo, em Patmos, o armagedom da
divisão, da batalha naval no mar de onde emergem as bestas que cruzam lanças em
favor da “besta literal” e da “besta simbólica”. Os saduceus reformados de um
lado e os fariseus desinformados de outro. É assim que é. Foi assim que foi. Fiel
é esta história e digna de inteira aceitação.
No
calvário dos hereges, da verdade e da reflexão, exclamo: Eli, Eli, lamá sabactâni?
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