Deus no octógono

Ao que parece às igrejas neopentecostais, Deus concede um poder de super-homem aos novos convertidos, algo como o raio de Zeus para os mortais. “A oração tem poder” é um jargão evangélico arcaico e mais poderoso que a própria oração, pois ao mesmo tempo que esta é, de fato, apenas um instrumento para invocar os desejos de Deus, nós, através deste provérbio, a transformamos em um “feitiço contra o feiticeiro”, pois a usamos rotineiramente para encurralar Deus no octógono, com o propósito de retirar o cinturão de Sua vontade.

Esta queda de braço é antiga, porém tomou um corpo mais tangível com o advento do Neopentecostalismo. Determinar a bênção, marcar hora para o milagre e requerer direitos supostamente adquiridos, é, sem margem de erro, se posicionar como quem é superior à divindade invocada, que, para tanto, passa a ser serva e funcionária de quem esfrega a lâmpada. A oração, neste sentido, é um método intelectual para manipular um deusinho bom e submisso, com argumentos fatídicos de que, não os pedidos, mas as imposições realizadas, são o melhor para quem está do outro lado da linha. Lembro-me das palavras insensatas de um homem chamado João Batista, que se dizia o profeta desta nação: “Se Deus não te der a bênção, nós subiremos e daremos uma bicuda na porta do Céu, entraremos e tomaremos a benção.” Tal chute não seria um golpe de MMA?

Isto acontece por todo o lado; por todos os 8 lados do octógono espiritual para o qual desafiamos Deus na pós-modernidade. Mas a verdade é que Ele não se presta, como o gênio da lâmpada, a realizar os nossos desejos e nem está à nossa disposição como este está em suas estórias e romances. A oração é um ato de humilhação para se dizer a Deus que nada se pode fazer, e que não se pode nem terminar a mesma oração sem o agir constante Dele. “Contudo, não se faça a minha vontade, mas a Tua.” (Lc 22:42), foi o que o próprio Jesus disse em angústia e aflição no caminho de sua morte. Apesar do sofrimento efêmero, ele tinha a certeza de que o Pai, dotado de uma eternidade de experiências, conhecia o final derradeiro daquela história, pois era ele mesmo o seu próprio designer. A evidência incontestável é que o Cristo ressuscita ao terceiro dia.

Deu certo com Jesus! Sempre vai dar quando agirmos como o mesmo. Isto significa que precisamos aprender com ele, pois sua vontade era que aquele cálice de sofrimento passasse de fato. E se Deus o atendesse naquele momento? Meus pecados não estariam perdoados e, portanto, este texto nunca seria escrito por mim. Você, por conseguinte, jamais leria um artigo no qual estivesse a palavra “Deus” em seu título. Portanto, a vontade Dele é a única coisa à qual devemos identificar e considerar diante do que queremos. Nossa ilusão é pensar que estamos observando uma lógica em nossos projetos, de tal forma que não haverá falhas ou surpresas, de maneira que não precisamos de outra vontade além da nossa, e de modo com que os nossos caminhos e pensamentos fossem maiores que os Dele (Rm 11:33). Depois olhamos para trás, e percebemos que nada poderia ser diferente do que Ele queria.

Às vezes, Ele parece demorado e tardio em nos defender (Lc 18:7), mas tal fato é só fruto do nosso ponto de vista. O único motivo pelo qual Ele sabe o futuro, não é porque ele é Deus, mas sim pelo simples fato de que é Ele quem o cria, e que por isto, “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam.” (Rm 8:28), ou seja, Ele constrói o futuro baseado em nosso amor para com Ele. Então só ame, só chore, só peça, só clame, só se derrame perante a Sua grandeza. Deus não é manipulável, nem convencível, e não pode ser usado em nosso favor. Chega de chamá-lo ao octógono para dizer o que deverá ser feito. Você não faria isto com o Anderson Silva, não é mesmo?

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