Por que sou cristão? - Vol. 1

Em uma tríade de artigos intitulados respectivamente de "Por que sou cristão?", "Por que sou protestante?" e "Por que sou presbiteriano?", tentarei delinear os motivos mais preponderantes que me fazem possuir a fé que tenho na existência do Deus judaico-cristão, na necessidade da Reforma Protestante e na "acertividade" teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil.

POIS BEM, SEM MAIS DELONGAS, VAMOS AO QUE SE ESPERA:

A princípio, é indispensável ratificar que eu creio que o motivo de eu ser cristão ancora-se em uma fé pessoal e intransferível concedida a mim via um condutor espiritual chamado Espírito Santo. Neste sentido, a fé me prova a existência da divindade judaico-cristã, porém, pelo fato da fé ser um tipo singular de evidência, ou seja, por ela provar somente para quem a detém, então, não posso tecer justificativas transcendentais para demonstrar a viabilidade racional da minha fé. Isto seria uma imbecilidade sem tamanho.

Visto isso, preciso identificar os fatores racionalmente plausíveis e os elementos cientificamente mensuráveis que estão anexos à centralidade espiritual da minha crença, a fim de que eu possa minimamente apresentar um conjunto de razões epistemologicamente confiáveis que ratifiquem a coerência de se acreditar naquilo em que acredito. Então, para fins de comprovação, guiarei este artigo por meio das repostas às duas perguntas objetivas seguintes:

POR QUE DEVO ACREDITAR QUE EXISTE UM CRIADOR CONSCIENTE E INTELIGENTE?


1 - Porque se um criador com estas características não existisse, o universo e a vida teriam que, inevitavelmente, ter surgido da obra explosiva e acidental do acaso, o que, paradoxalmente, não poderia produzir dois fatores que foram produzidos: construção de estruturas e organização da construção. Podemos exemplificar esta consideração na seguinte hipótese: a explosão de uma sala com páginas soltas e dispersas em todo o seu espaço não poderia jamais produzir a impressão de um livro qualquer e, nem muito menos, gerar a ordem exata de sua palavras como em um dicionário.

2 - O contrário desta impossibilidade chama-se design inteligente. É só olhar para a estrutura construída e observar cientificamente sua funcionalidade exata: o planeta Terra tem uma inclinação de 23,5 graus, o que é ideal para haver regulação do calor. Se a inclinação fosse aumentada pra 45 graus, os verões seriam quentes demais e os invernos frios demais. Se a inclinação fosse diminuída, pra 0 graus, o equador seria quente demais, e os polos - norte e sul - seriam frios demais; se o tempo de rotação deste planeta fosse diminuído em 01 décimo, os dias e as noites seriam 10 vezes mais longos, o que inviabilizaria progressivamente a manutenção da vida sob a luz solar e o frio da noite; a atmosfera terrestre tem uma espessura de 480km, o que é ideal para impedir que a chuva diária de meteoritos penetre em suas camadas superiores e chegue à nossa troposfera. Calcula-se que há cerca de 2 milhões de variáveis diretas e indiretas que permitem a existência da vida na Terra.

3 - Além de tudo isto, a existência de um criador está substancialmente de acordo com um postulado científico universalmente aceito. Se considerarmos a Lei da Biogênese de Pasteur, que diz que a vida só pode ser gerada a partir de outro organismo vivo, o conceito evolucionista de que a matéria inanimada e inorgânica produziu vida e seres vivos complexos é desmontada categoricamente, ao passo que a teoria criacionista de que um Deus vivo pariu todas as formas de vida existentes se encaixa perfeitamente nesta lei. Enquanto a Lei da Biogênese estiver em vigor científico, não há outra possibilidade para a causa da bioexistência.

4 - Por que se eu não acreditar que existe um criador consciente e inteligente, eu, inevitavelmente, só poderei acreditar que a razão da minha existência é o produto de uma casualidade, o que, consequentemente, deve me levar a concluir que a minha crença é um subproduto do acaso, o que, coerentemente, precisa me convencer de que não é razoavelmente inteligente acreditar que pensamentos desta natureza, isto é, subprodutos acidentais, possam ser verdadeiros no que tange ao primeiro acidente. Seria como esperar que a forma acidental tomada pelo leite esparramado pelo chão, quando você deixa cair a jarra, pudesse explicar como a jarra foi feita e porque ela caiu.

POR QUE PRECISO CRER QUE ESTE CRIADOR É, NECESSARIAMENTE, O DEUS JUDAICO-CRISTÃO REVELADO NA BÍBLIA?

1 - Se a Bíblia, de fato, revela a existência de um criador ou, melhor, se este criador, que se autoproclama como Deus, se revelou por meio da Bíblia, então, esta fonte autobiográfica, necessariamente, precisa apresentar em seu conteúdo dados fidedignos no que concerne à obra deste criador. Falo do universo e da natureza. Se houver uma única informação científica inverídica sequer na Bíblia, isto pode ser o suficiente para desacreditá-la por completo. Faço o desafio:

- O cálculo mais preciso a respeito do tamanho do Sol concluiu que o nosso "astro rei" tem 696.342 quilômetros de raio – com margem de erro de 65 km, ao passo que a Lua, nosso satélite natural, tem um diâmetro de aproximadamente 3.476 km. Portanto, o Sol é consideravelmente maior que a Lua. E é exatamente isto que a Bíblia afirma:

"Fez Deus os dois grande luzeiros: o MAIOR para governar o dia, e o MENOR para governar a noite; e fez também as estrelas." (Gênesis 1:16)

- Até 1687, quando Isaac Newton descobriu "a lei da gravitação universal" e provou que a terra flutua no universo, as pessoas não acreditavam neste fato com tanta veemência. O interessante é que esta descoberta já estava patenteada na Bíblia:

"Ele estende o norte sobre o vazio e faz pairar a terra sobre o nada."  (Jó 26:7)

- Até o final do século XIX, não se sabia, com certeza, se havia um núcleo denso no centro da Terra e, se havia, do que ele era formado. Então, em 1905, o Geofísico Andrij Mohorovicié (1857-1936) descobriu o manto por meio de ondas sísmicas; o Geofísico Beno Gutenberg (1889-1960) descobriu o núcleo externo na terra em 1930; e, finalmente, em 1936, a Geofísica Inge Lehmann (1888-1993) descobriu o núcleo interno da terra, formado por magma. Engraçado! A Bíblia já havia nos alertado sobre isto:

"Da terra procede o pão, mas embaixo é revolvida como por fogo." (Jó 28:5)

 - Antes mesmo do navegador Fernão de Magalhães comprovar a teoria de Nicolau Copérnico em paralelo com Galileu Galilei, que asseverava que a Terra é redonda, a Bíblia repetiu a veracidade deste fato por três vezes, embora alguns filósofos gregos tenham levantado hipóteses nesta mesma direção:


"Traçou um círculo à superfície das águas, até os confins da luz e das trevas." (Jó 26:10)

"Então, elas, segundo o rumo que ele dá, se espalham para uma e outra direção, para fazerem tudo o que lhes ordena sobre a redondeza da terra." (Jó 37:12)

"Ele é o que está assentado sobre a redondeza da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar" (Isaías 40:22)

- Parece muito estranho dizer que as fases da Lua influenciam no comportamento das marés, das ondas marítimas. No entanto, ao lado da Astronomia, a Bíblia aponta este mesmo fato:

"Assim diz o SENHOR, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; SENHOR dos Exércitos é o seu nome." (Jeremias 31:35)

Será razoável acreditar que todas estas asseverações foram produzidas a partir de uma observação primitiva ou que representam um conjunto de golpes de sorte perfeitamente certeiros? É óbvio que não. Este conjunto de informações só pode ser fruto de revelação por parte do criador, assim como só um relojoeiro pode apresentar os detalhes de seus relógios de forma tão "acertiva". E isto não é tudo. Portanto, convido você a ir além e continuar perscrutando a ciência contida na Bíblia a fim de experimentá-la mediante crivos científicos universalmente aceitos.

2 - Iniciado formalmente em 1990, O Projeto Genoma Humano foi coordenado por 13 anos pelo Departamento de Energia do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. O projeto originalmente foi planejado para ser completado em 15 anos, mas o desenvolvimento da tecnologia acelerou seu final para 2003. As principais metas do Projeto Genoma Humano foram: identificar todos os genes humanos; determinar a sequência dos cerca de 3,2 bilhões de pares de bases que compõem o genoma do Homo sapiens; armazenar a informação em bancos de dados. Você sabe qual foi a última e mais importante conclusão do PGH? Leia você mesmo:

“O verdadeiro Adão viveu na África, cientistas sustentam que toda a humanidade descende de um ancestral comum.”  
(Jornal O Globo, de 25 de dezembro de 2002, Coluna: Ciência e Vida)

Dispenso comentários.


3 - Considerando que o episódio da "Ressurreição de Jesus" é a centelha primordial que dá vazão à formulação do cristianismo, vou indicar aspectos historicamente relevantes em seu contexto, a fim de que a realidade deste evento seja exposta por meio de parâmetros lógicos. O que vou demonstrar, portanto, prova que, em hipótese alguma, houve um complô para arranjar e forjar a possível ressurreição de Cristo:

- Em primeiro lugar, o fato da narração do episódio da ressurreição se dá em quatro fontes diferentes (Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João), permitiu que houvesse pequenas discrepâncias entre uma fonte e outra, como a quantidade de mulheres e anjos presentes no episódio. Assim, se os discípulos quisessem montar uma história irreal de ressurreição, eles entrariam em acordo para jamais deixar que estas contradições existissem, ou seja, elas só existem porque, ao observar um fato qualquer, é natural que haja o fator "ponto de vista", que diferencia um testemunho do outro (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-8; Lucas 24:1-12; João 20:1-10).

- Além disto, os quatro evangelistas afirmam que as primeiras pessoas que testemunharam a Ressurreição de Jesus foram mulheres. Entretanto, até o primeiro século, as mulheres não tinham um depoimento válido perante um tribunal, isto é, não tinham qualquer credibilidade para serem testemunhas. Novamente, se os 11 discípulos desejassem produzir um falso acontecimento a fim de aliciar mais fiéis, eles nunca escreveriam que foram mulheres as testemunhas que presenciaram os primeiros momentos da ressurreição.

- Em terceiro lugar, que Jesus morreu crucificado, até os mais acirrados céticos e críticos da literatura bíblica são categóricos em concordar. Então, dizem estes teóricos, que os discípulos de Cristo, para apagarem a vergonha da cruz para o cristianismo, tentaram reverter o quadro, tecendo o episódio da ressurreição. Ora, isto seria uma estupidez dantesca, pois nenhuma nação ou cosmovisão religiosa daquele tempo, aceitava a ressurreição como uma possibilidade. Em vez disto, os discípulos, com certeza, escolheriam a metempsicose ou teoria da transmigração da alma, acolhendo os egípcios, gregos, romanos, pitagóricos etc, ou a imortalidade da alma, ganhando os platônicos, ou ainda mesmo a reencarnação, convencendo a civilização persa, dentre outras. A ressurreição era um doutrina rejeitada por todos os filósofos e teólogos de todas as culturas do primeiro século.

- Os médicos judeus eram recorrentes em acreditar que um corpo inconsciente, embora pudesse estar morto, poderia também estar em coma reversível até no máximo três dias. Se os discípulos de Jesus quisessem pleitear sua ressurreição de forma criminosa, eles não colocariam o intervalo entre a morte e a ressurreição de Jesus em um prazo compreendido de três dias, mas no mínimo de cinco dias.

4 - Jesus possui uma influência singular em todas as cosmovisões religiosas de grande porte posteriores a ele. Aparentemente, nenhuma religião depois do primeiro século conseguiu consolidar suas doutrinas sem se deixar levar pelas bandeiras ímpares que Jesus Cristo levantou. O Espiritismo de Allan Kardec tem Jesus em seu "Livro dos Espíritos"; O Livro de Mórmon conseguiu criar outro evangelho, porém, sem se desvincular da pessoa de Cristo; O Alcorão registra que Jesus foi o penúltimo profeta enviado por Deus ao mundo, ou seja, o último antes de Maomé. O budismo e o hinduísmo, por serem anteriores à Cristo, não o mencionam em seus escritos, embora o tratem como mestre indispensável à história. E falando em história, é o nascimento de Jesus (um homem qualquer?) que a divide. É a cruz que está pregada em tribunais de justiça mesmo em países laicos como o nosso; é sobre a Bíblia que juram as testemunhas dos crimes julgados. Tudo isto me parece o cumprimento progressivo de uma profecia que o próprio Jesus proferiu a respeito de si mesmo:

"E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer." (João 12:32,33)

Batismo Infantil - Uma cicatriz no rosto de Calvino

Não houve como escapar. Lutei e fugi, mas, de um jeito ou de outro, eu sempre soube que este momento chegaria. Falo da ingrata oportunidade de escrever sobre este assunto. Digo "ingrata" porque sempre sofro retaliações sutis do círculo do qual faço parte (o presbiterianismo), quando publico opiniões divergentes de suas crenças ou práticas. Todavia, diferentemente da atitude dos judeus, narrada em João 12:42-43, não temo sofrer sanções de afastamento ou mesmo expulsões psíquicas daqueles que se assentam na mesa comigo para repartir o pão. É que eu amo exclusivamente a glória de Deus e dela não me apartarei por pragmatismo.

Pois bem, então! Vamos ao desenrolar do carretel. Em primeiro lugar, o título deste artigo tem sua conotação no fato de que sendo eu presbiteriano - e por assim dizer um "calvinista" - acredito que o conjunto de interpretações bíblicas de João Calvino, isto é, as doutrinas que ele assumiu como tais, são, em sua maioria, as corretas e convenientes constatações daquilo que é realidade nas Escrituras. Todavia, a meu ver, esta "acertividade" calvinista não implica na perfeita e plena conjunção doutrinária, ou seja, a doutrina da Depravação Total acolhida por ele não o isentou de ser totalmente depravado para errar.

Visto isso, considero o ato de batizar crianças como uma das poucas, embora existentes, opiniões teológicas equivocadas que o francês abraçou. Vejamos o porquê: o batismo infantil é justificado pelos teólogos reformados como o sinal neotestamentário (do Novo Testamento) que substitui, em forma de aplicação, o sinal veterotestamentário (do Velho Testamento) da circuncisão. É que, segundo eles, o Pacto da Graça selado com Abraão em Gênesis 17:9-14, se perpetuou mesmo após o advento da Nova Aliança. E se a circuncisão foi abolida em Cristo, logo deverá haver outro símbolo que cumpra este papel, concluí eles.

Eu concordo. Se nós somos descendentes de Abraão (Gl 3:6-14) e se a promessa divina se estenderia até os seus descendentes (Gn 17:1-8), então, estamos sim sob este Pacto. Mas pra que servia a circuncisão? Ora, para sinalizar, visível e externamente, que o sujeito circuncidado fazia superficialmente parte do Povo de Deus. Para tanto, o ato de circuncidar não tinha nenhuma ligação com a salvação. Estando circuncidado, um indivíduo poderia ser um israelense (pertencente ao povo hebreu), sem, contudo, ser um israelita, ou seja, alguém cujo coração fora transformado. O mesmo acontece com o batismo e com os batizados.

Por conseguinte, a Santa Ceia, no mesmo rumo desta constatação, é classificada como o ato simbólico que substitui a Páscoa. Para os calvinistas, o batismo e a ceia tornaram-se, portanto, os sacramentos que devem ser ministrados como meios de graça no seio da Igreja. Bem, apesar de não discordar veementemente que ambos os sinais supracitados são, de fato, substitutos daqueles dois ritos que, em Cristo, foram aniquilados, embora não haja nenhuma afirmação bíblica categórica a respeito desta substituição, não acredito que a transformação destes elementos se aplique somente à sua forma, mas, sobretudo, creio que ela tem relação direta com aqueles que receberão o sacramento.

Vou explicar: se o batismo substituísse a circuncisão exclusivamente em seu formato de sinalização, apenas os meninos de oito dias poderiam ser batizados, concorda? Pois somente eles eram circuncidados (Gn 17:12). Mas e as mulheres? Pior: e as mulheres adultas claramente batizadas no Novo Testamento? Se você indagar um bom pastor presbiteriano sobre este aparente contrassenso, ele, automaticamente, o responderá que houve uma ampliação do Pacto da Graça quando a Nova Aliança entrou vigor, de modo que aqueles que não recebiam o sinal, passaram, naturalmente, a recebê-lo (em qualquer época). No entanto, se é assim, por que a troca Páscoa/Ceia tomou o caminho inverso?

É que, no Antigo Testamento, todos os hebreus participavam da Páscoa: homens, mulheres, adultos e crianças (Ex 12:1-28); já no Novo, só discípulos professos e em comunhão com Deus "podem" cear (Mt 26:26-30; 1 Co 11:17-34). Você consegue enxergar o tamanho dantesco desta incoerência? Percebe que este argumento da "ampliação do Pacto" não tem aplicabilidade lógica? O que quero dizer é que este sistema reformado de substituição sacramental  é coerente e eu o admito, porém, é óbvio demais que o fato de que meninos eram circuncidados no Antigo Testamento não pode, coerentemente, justificar o ato de se batizar meninos e meninas no Novo.

Quando falamos em crianças e adultos, não estamos nos referindo à idade, mas à maturidade pessoal e subjetiva de cada um. Acredito que, na Nova Dispensação, Deus decidiu conectar a sinalização do Pacto da Graça à consciência (1Pe 3:21), de modo que o desejo pelo símbolo de participar do povo de Deus se manifeste espontaneamente e que antes do ato de ser marcado por este sinal, o indivíduo faça uma confissão pública da fé admitida em seu coração (At 8:36-38). Por todo o Novo Testamento, você só lerá relatos de batismos realizados com estas perspectivas.

Outra inconsistência presente no Batismo Infantil é com respeito à sua constatação hermenêutica. Se considerarmos algumas regras reformadas de interpretação bíblica, identificaremos grandes disparates entre o que dizem os presbiterianos sobre como se deve interpretar as Escrituras e como, de fato,  eles a interpretam:

1 - Os teólogos presbiterianos dizem que "os exemplos bíblicos só têm peso de autoridade quando são amparados por um mandamento". Entrementes, no caso do batismo infantil, não há mandamento algum ou qualquer tipo de exemplo, mesmo sem ordenança, que minimamente o pudesse ratificar. Até sobre um suposto e estranho "batismo pelos mortos" praticado pelos coríntios, há menção paulina (1Co 15:29), mas sobre o batismo de crianças, não existi nem meio versículo.

2 - Dizem também que "a história da Igreja é importante, mas que não é decisiva na interpretação da Escritura." Contudo, por não encontrarem um único versículo qualquer para descarregarem sua consciência, buscam relatos de historiadores dos primeiros séculos para darem razão à sua prática, como se isto fosse o suficiente para pleitear a instituição de uma doutrina na Igreja. É o mesmo que fazem os Adventistas do Sétimo Dia, quando querem através de relatos históricos seculares, evidenciar que a Igreja Primitiva guardava o sábado. É o mesmo argumento, ora! A pergunta é: por que os presbiterianos não guardam o sábado se existem literaturas que indicam sua guarda pelos primeiros cristãos?

3 - Afirmam também que "A Bíblia explica a própria Bíblia", isto é, que não devemos acrescentar, nem subtrair nada das Escrituras, de modo que quando ela fala, nós falamos, e que quando se cala, nos calamos. Entretanto, os pastores da IPB se apropriam de textos onde houve batismos coletivos para indicar que ali havia crianças e que foram batizadas. Contudo, se investigarmos os textos, veremos a altura do equívoco: em Atos 16:14,15 não são mencionadas crianças, por isto eu também não posso menciona-las; em Atos 16:32-34, Lucas cita a pregação e conversão de todos os da casa do carcereiro, o que, provavelmente, já exclui a existência de crianças, pois estas não podem professar a fé; em Atos 18:8, só foi batizado quem pode professar a fé; e em 1 Co 1:16, também não há registro algum sobre crianças batizadas.

4 - Asseveram "que de livros históricos não se pode extrair ou formular doutrinas, pois estes tem, em sua maioria, textos narrativos e não decretivos." Sendo assim, mesmo se o Livro de Atos mencionasse claramente um batismo infantil recorrente na Igreja Primitiva, não seria possível concluir, por meio de somente citações deste livro histórico, que o desejo de Deus era que crianças fossem batizadas no Novo Testamento.

Solução?

A solução não é muito complexa. Como eu disse, eu acredito que o batismo é sim a substituição da circuncisão. Mas disse também que esta substituição não se resume à mudança do rito, porém, sobretudo, a quem ele vai ser aplicado. E como, então, eu resolvo esta equação? Ora, é simples! Se você perguntar a um teólogo presbiteriano como as mulheres entravam, visível e externamente, no Pacto da Graça na esfera do Antigo Testamento, já que elas não eram circuncidadas, ele lhe responderá, por inferência lógica, que elas entravam através de um homem (quando solteira, pelo pai; quando casada, pelo marido). Isto não é bíblico, mas é a única opção inteligente. E eu concordo. Visto isso, assim como as mulheres, no contexto veterotestamentário, entravam no Pacto, por meio de uma figura masculina, sem qualquer simbolização, agora, no Novo testamento, os filhos entrarão também no Pacto sem um sinal, mas por meio dos pais, que receberam o sinal (o batismo). Coerente, não? O argumento reformado deveria se estender até o Novo Testamento. No entanto, você ainda poderia me perguntar: Marlon, mas e se só um dos pais for crente e, portanto, só ele tiver sido batizado? Como resolvemos? Simples também. É só lermos 1 Coríntios 7:14: "Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. De outro modo, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos." A única razão pela qual Paulo afirma que o cônjuge incrédulo é, de alguma forma, "santificado" no convívio do cônjuge crente, é para que os filhos não fiquem sem ser santos, ou seja, para que não fiquem fora do Pacto, embora não recebam seu sinal.

Eu, evangélico?

É recente. Fui batizado em 2008 na Igreja Presbiteriana do Brasil. Não faz nem uma década. Mas de lá pra cá, começou em mim um processo de lucidez existencial - e por que não espiritual? - que jamais havia experimentado antes. Então, passei a estudar a propedêutica da teologia, inteirar-me de literaturas multi-teológicas, frequentar círculos divergentes dos arraiais reformados, debater assuntos parcialmente inquestionáveis e tecer a gênese do meu amor por escrever sobre tudo a partir de uma perspectiva cristã. Isto abre a mente. Dá asas ao espírito. Amadurece a idiossincrasia pessoal e a cosmovisão de reino.

Foi, então, que percebi, com a surpresa de uma criança honesta na fé, que há algo muito errado com o universo evangélico brasileiro. A realidade é que a maior parte do que é produzido ou introduzido aqui, com um caráter religioso cristão, manifesta-se com uma roupagem colorida por dois elementos amplamente negativos: a mistificação do trivial e a ressurreição do que já está consumado. Já escrevi sobre isto em outros textos como "O catolicismo histórico, o valdemirismo brasileiro e a Síndrome de Tomé", "Os brincos da Coruja" e "Dossiê da história cristã". Todavia, gostaria que você me desse mais uma oportunidade de reavaliar estes fatos.

Parece que, quando as coisas começam a tomar rumo, sempre surgem cardos e abrolhos pra desfazerem o progresso iniciado. Tivemos o mover do G12, da visão celular, da descoberta do Benny Hinn, da ascensão de Edir Macedo (o mentor de "Erre Erre" Soares e Valdemiro Santiago), todos inspirados por Kenneth Hagin, T. L. Osborne & Cia. O neopentecostalismo, cujo fio condutor é a Teologia da Prosperidade e Cura, se dilatou e com ele um conceito equivocadíssimo de avivamento se espalhou pelos salãozinhos evangélicos. "'Salãozinhos' não! Mais respeito! Construímos a Cidade MUNDIAL e o terceiro Templo de Salomão na cidade de São Paulo." Coitado de São Paulo. Deve estar aos berros lá em cima.

Mas voltemos aos dois elementos supracitados. O primeiro é o que guia os cultos, as reuniões, a formação da liderança, o poder concedido a ela, a hierarquia eclesiástica, os sermões, as liturgias e as músicas do movimento evangélico brasileiro. Quando o G12 começou na Colômbia em 1983, ele não tinha todas as conotações que os evangélicos [leia-se: neopentecostais] lhe atribuíram aqui no Brasil: batalha espiritual, quebra de maldições, atos proféticos, cura interior, regressão, hipnose, fogueira santa etc. Todos estes ingredientes foram incrementados pelos bruxos cristãos de nossa geração. Não lhes basta o trivial, o comum, a singeleza da simplicidade. É necessário mistificar o padrão para lhe dar ares de espiritualidade.

Lembra-se da unção do leão de Ana Paula Valadão? Do copo de água em cima da televisão pela I.U.R.D? Dos lenços "Sê tu uma Bênção" do Valdemiro? Já ouviu falar em correntes, novos apóstolos, maldições hereditárias? Das loucuras do "Bispo" Átila Brandão que chama o arcanjo Gabriel de Gabi? Das maluquices da Igreja Quadrangular Brasil afora? Lembro-me que, aqui perto de casa, a igreja que citei por último proibiu os membros de tomar Coca-Cola; depois, desproibiram de tomar o refrigerante e baixaram um novo regulamento que definia a roupa com a qual os fiéis deveriam ir aos cultos: pano de saco. E é neste desequilíbrio que o cenário vai se descortinando.

Mas ainda não acabou. O outro elemento do qual falamos é a ressurreição do que faleceu em Cristo. Além de mistificar o simplório, eles querem vivificar a cultura judaica, suas tradições, a lei mosaica, Israel etc. Querem se vestir como os hebreus, trazer a água do rio Jordão ou serem batizados lá, engarrafar torrões de terra da Terra "Santa". Exatamente como o João Alexandre melodificou: "Reconstruindo o que Jesus derrubou. Recosturando o véu que a cruz já rasgou. Ressuscitando a lei, pisando na graça, negociando com Deus! No SHOW DA FÉ, milagre é tão natural, que até pregar com a mesma voz é normal. Nesse Evangeliquês UNIVERSAL, se apossando dos céus. Estão DISTANTE DO TRONO, caçadores de Deus ao som de um Shofar. E mais um ídolo importado dita as regras pra nos escravizar. É proibido pensar!"

E não é isto que o MACEDOzedeque acabou de fazer na terra da garoa? Dando vida ao que o Cristo assassinou quando foi assassinado na cruz? Como disse Paulo, não me envergonho do Evangelho, porém, tenho uma imensurável aflição e constrangimento quando sou confundido com um evangélico. É que o Evangelho e os evangélicos não se misturam, pelo menos ainda não. E se lá no panteão de apostasias deles, é proibido pensar, eu jamais quero estar incluído neste rótulo. Portanto, não me insulte. Não profane o meu nome. Não me detenha na roda destes escarnecedores. E, sobretudo, não me conte entre eles quando o censo passar.