Foram 358 anos de escravidão no Brasil, o que produziu condições sociais
expressivamente desiguais para os afrodescendentes e raças afins. É
como se um indivíduo branco e outro negro estivessem lado a lado para
começar uma corrida em busca de seu bem-estar social e econômico, embora
a vitória de um não implicasse no fracasso do outro. Então, por algum
motivo que nunca se irá saber, o sujeito branco decidi amarrar as pernas
do negro, a fim de que ele não parta em direção ao êxito
pessoal. O branquelo começa a correr sozinho, aumentando e diminuindo
os passos conforme sua capacidade. O afro continua preso na linha de
partida por exatamente 358 anos, até que no final deste tempo, uma
mulher, branca como leite, percebe a injustiça e o solta daquelas
amarras. O negro, assim, começa sua jornada, mesmo tendo perdido seu
companheiro branco de vista. Como soltá-lo não seria suficiente para que
ele pudesse alcançar o branquelo, então, alguém tem a brilhante ideia
de dar ao afrodescendente uma bicicleta (uma cota, um privilégio
temporário, um benefício necessário, uma medida desigual), para que ele
alcance o outro corredor em um médio espaço de tempo, jogando a
bicicleta para o canto quando isto acontecer, a fim de se igualar com
aquele que lhe amarrou e correr ao lado dele. Isto é ou deveria ser a
política de cotas. Agora me diga: onde está o caráter socialista,
antimeritocrático, militante de minoria ou progressista desta medida?
Será que você não percebe que o argumento lúgubre de que "se todos são
iguais perante a lei, não pode haver cotas", ignora o fato de que
durante quase quatro séculos as pessoas não eram iguais perante a lei, e
que esta realidade, inevitavelmente, condicionou os padrões
socioeconômicos do presente?
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